terça-feira, 2 de maio de 2006

A Ericeira não tem banhistas, tem devotos













“A Ericeira não tem banhistas, tem devotos. Quem a conheceu por dentro não a troca por nenhuma outra praia; quem a conheça por fora, acha-a brumosa, sem Sol, com picos nas pedras, areias esquivas. É como certas mulheres que parecem feias mas sabem prender para sempre. Cada qual vê a Ericeira a seu gosto. Pelo meu lado, o que me fascinou foi o clima. Um clima único, que se instalou naquela pequena concha como uma pérola num búzio. Na força do Verão sai-se de Lisboa quase asfixiado pelo ar quente e quando se entra no Jogo da Bola, sente-se que faz falta um agasalho de lã. Porque a Ericeira é este milagre que o Lisboeta não sabe: a abolição da canícula. O Jogo da Bola é o centro cívico da terra, a praça dos cafés, do turismo e da farmácia, que manteve o ar castiço do séc. XIX sem contudo assumir o tom outonal das terras decadentes.”

José Hermano Saraiva, “ O Tempo e a Alma”, Ed. Circulo de Leitores

3 comentários:

Foka_bock disse...

Muito bom meu... já me tinhas falado nisto. Palavras sábias!

Claricinha disse...

A nossa ericeira é mesmo um vício, uma devoção, quase um fanatismo. Basta lembrar os mitos que se criaram para percebemos quão cegamente gostamos dela...

Marmelete disse...

Parece que ficaste parado no tempo. Mais um escrito de uma múmia que foi Ministro da Educação nas épocas de 24 de Abril.